sábado, março 03, 2007

Interacção

No decorrer dos anos acabou por desenvolver um sistema de restrição social. Em tal domínio fechava-se para proteger a notória incapacidade de estabelecer contactos pessoais. Quando dentro desse sistema, a proximidade de outras pessoas desencadeava uma rápida reacção de exclusão que o afastava da interacção com terceiros. Assim decorriam horas infindas de observação. Procurava recolher o máximo de informação acerca de tácticas e temáticas de aproximação. Dentro da sua cabeça desenvolvia-se um esforço enorme para sistematizar os dados recolhidos, com vista a uma futura aplicação. Quando, ainda não definira.
A cada momento decorrido, os centros de acção pediam-lhe para entrar em campo e usufruir do conhecimento entretanto adquirido. De modo cauteloso, os decisores mantinham-nos inactivos, expectantes. Recolhiam sempre mais informação, que nunca se considerava suficiente. Nos espaços de armazenamento, ela era emparcelada e compactada, por ordem de captação e definição para consulta dos modelos mais recentes, havendo sempre alguns moldes de antigos, mas considerados eficazes, que permaneciam em destaque.
Desta situação resultava uma enorme tensão, com os centros de acção a pressionarem os decisores para que ordenassem aos espaços de armazenamento a disponibilização de toda aquela informação em formato de execução. Questionavam ainda, e de forma constante, os armazenadores quanto à possibilidade de execução da sabedoria. Por outro lado, e perante esta inquirição, estes últimos acabavam por ajudar a sobrecarregar os decisores com as perguntas dos centros de acção. Em adição, os decisores deviam também manter exteriormente uma tranquilidade assimiladora para que não lhes fugisse nada de importante.
Perante isto eram inevitáveis os atritos e que muitas vezes, após prolongada duração, desencadeavam um processo de descontrolo interno. Os decisores ficavam impossibilitados de colher com precisão determinantes dados sociabilização e, simultaneamente, permitiam acções irreflectidas que nada contribuíam para a serenidade desejada na tarefa. Numa primeira fase, desencadeava-se a interrupção, ou deformação, da via de recepção e captação, necessariamente passiva, caracterizada por uma introspecção aparente. Posteriormente, a irreflexão dos actos exteriorizavam o colapso que decorria no âmago do sistema. Em regra, materializava-se acessos de raiva dirigidos a objectos alheios, ou por vezes, caros a si, podendo também ocorrer auto-punição, física e psicológica. Nos casos mais extremos, os quais evidenciavam o total colapso da estrutura de controlo e percepção, e à qual apenas ficava blindada a parte central de armazenamento e execução de acções, o alvo de agressão tornava-se a próprio fonte de conhecimento ou o objectivo de aproximação.

2 comentários:

Zara disse...

Maravilhoso é quando se consegue, passada a fase de auto-punição, ver o passado com tanta clareza. Com toda a certeza servirá para evitar que de futuro o sistema de restricção social se reactive...

sergei disse...

quem sabe?...