segunda-feira, outubro 06, 2008

Vem daí de longe

Vim aqui para escrever umas quantas linhas descabidamente confessionais para te mostrar que eu nem sei bem o quê em relação a ti. Tudo seria maravilhoso e tu verias que sim, tudo faz sentido deste meu ponto de vista. Lerias e pensarias que faço eu tão longe dele, aqui só a pensar como virei a ser feliz, quando afinal estava tudo ali ao lado.
Acabo então a teclar frases de incapacidade e de qualquer coisa mais que não serve de nada estar a espalhar por aqui. Tu jamais tomarás contacto com isto, nem o perceberás como para ti. Ou então,... sei lá então.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Correcção

Por fim, o médico-chefe ameaçou-o de lhe aplicar a závoloka. (...) como fazem aos cavalos. O coitado, mesmo assim, não desistiu. Era de carácter teimoso ou, então, demasiado cobarde: é que a závoloka também era uma tortura, embora não tanto como as pauladas. Repuxam a pele do pescoço do doente, na parte de trás, tanto quanto a mão pode agarrar, depois furam a pele repuxada com uma faca, fazendo uma ferida larga e comprida ao través da nuca, e passam nela um nastro de linho, da largura de um dedo; depois, todos os dias, a uma hora certa, puxam o nastro dentro da ferida, avivando-a, para que supure e não sare. O pobre suportou esta tortura terrível durante vários dias e só depois concordou que lhe dessem alta. (...) assim, foi metido no presídio militar para ser levado, no dia seguinte, ao castigo das mil pauladas.

Fiódor Dostoiévski, Cadernos da Casa Morta