- Estás bem?
- Sim... - responde com o olhar a vaguear pelo chão.
-... De certeza? Vá, que se passa?
Os olhos suspendem brevemente o seu passeio (- Nada...) para logo o retomarem.
No piso cimeiro de um prédio, um rapaz está sentado no parapeito da janela do quarto. Olha as fachadas apagadas em frente, sem vida. Dá um impulso com os braços e voa vagaroso. Cerra as pálpebras e, como vira nos filmes, espera recapitular as suas vivências. O significativo e o insignificante. O que pareceu importante e que ali se esfumaria num instante. O que desprezou e, de repente, o transtornaria por não o ter percebido anteriormente.
Espera, espera... Esperou, esperou... Pensa: "Nada... não se passou nada."
Abre os olhos, inspira e retesa o corpo que desce perpendicular ao solo. Os pés assentam. Todas as articulações cedem perante a pressão nelas exercida. O seu corpo abate-se ferozmente no cimento frio da rua. Por fim, a cabeça repousa com estrondo e espalha o seu conteúdo.
As luzes apagam-se.