domingo, março 04, 2007

Despertar

Cada vez eram menos os dias que começavam com vigor. O espreitar para além das cobertas que o abrigavam do ar frio da noite fazia-se perante um custo enorme. Tempo houvera em que as horas que teria por diante o despertavam de imediato. Punham-se na linha da frente as tarefas que iria realizar, organizando-se elas por prioridades de modo natural. Agora, todo esse processo requeria uma consulta de memória lenta e custosa. Alguns pontos gerais emergiam lentamente. Os detalhes permaneciam soterrados por lama encefálica, com os fios condutores aos princípios gerais e de prioridade em profuso rendilhado. O caminho que o levava até à arrumação dos pensamentos tornava-se tortuoso, com demoras, altos e baixos, esquecimentos e negligências, que resultavam em confusões e perdas de horas preciosas.
De quando havia entrado nesta via restava-lhe uma ténue lembrança. Talvez que fosse coisa para se arrastar há meses mas, no entanto, em nada estranharia se lhe dissessem que já eram anos. Tinha sim presente o facto de a busca interior dos porquês lhe ser indiferente. Considerava indiferente à falta de qualificativo mais desprezível.

2 comentários:

Anónimo disse...

isto é muito bom, pá.
é o diário do priolo ou são cadernos antigos?

sergei disse...

talvez cadernos antigos que se reciclam/actualizam a todo o momento. hum... não sei bem!