segunda-feira, março 05, 2007

Em meio minuto

Não havia manhã em que não se levantasse mais cedo que o necessário. Uma hora mais cedo, propositadamente, para a ver passar do outro lado da rua, em frente à janela de sua casa. Ela ocupava um apartamento uma vintena de metros abaixo de si. Via-a a sair e durante o meio minuto que a rapariga demorava a atingir a transversal, e a desaparecer, permanecia deslumbrado. Nesses escassos momentos, percorria-lhe as curvas do corpo com o olhar e registava todo o vibrar associado ao seu andar. Qualquer peça de roupa se tornava elegante ao assentar sobre ela e, por mais que tentasse, não conseguia decidir quando a vira mais bela. Era sempre diferente, mas sempre perplexamente deslumbrante. Após a perder de vista, continuava na varanda fitando o último ponto onde ela estivera ao alcance da sua vista. Por vezes chegava a pensar que, naquele preciso local, a luz, sempre tão apressada, desacelerasse para valores absurdamente baixos, ali retida por mais alguns instantes, para também ela fixar a beleza da rapariga.

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