Aproximei-me de ti. Não definiria o meu estado como nervoso. Antes cauteloso, talvez mesmo receoso. Não sei interpretar com eficácia as reacções das outras pessoas e, sempre com isso em mente, demoro a perceber a receptividade alheia à minha presença. Da conversa que iniciei, de tão banal que era, não recordo o tema. Alguma trivialidade idiota susceptível de provocar uma gargalhada e despertar concordância fácil. Palrámos agradados, a passear pelas vivências adquiridas. Procurei ler nos teus olhos o grau de satisfação pela minha companhia. Remoía-me durante todo o segundo em que percorriam a sala com vislumbres de interesse, ao ponto de o meu discurso quase tomar forma desconexa. Desesperei sempre que a tua fala parecia indiciar um fim de conversa. Na minha cabeça, nessas alturas, corria um extenso índex de temas e variações de conversação que tentava enquadrar de maneira mais ou menos lógica, só para que o teu sorriso rasgado permanecesse perto de mim.
Há momentos em que, na verdade, não pondero as minhas reais aptidões para uma tarefa e o ridículo que poderei vir a cair. Foi numa dessas ocasiões de inconsciência que procurei a tua mão e te puxei para mim. Vi surpresa no teu rosto e tu, em mim, terás visto algum espanto. Apercebi-me da indecisão que me corria no gesto decidido que praticara. Que pensava eu fazer? Tinha-te presa nos meus braços, com suavidade. A minha inconsciência rogava para conhecer o sabor dos teus lábios mas, na fracção de tempo que este repente utilizou, a consciência sobrepôs-se e falou-te por mim. Dançamos, disse. E dançámos. Talvez melhor descrito fosse, eu tentei fazer qualquer coisa que se parecesse com coordenação de passos e ritmos. Tentei seguir-te a perícia no rodopio. O meu corpo pedia-te contacto. Contacto e maior contacto e contacto mais ousado.
Corremos incessantemente a sala, alucinados pelo ritmo da música e do álcool. Quase não conversámos mais. Por vezes, entre duas músicas trocámos breves palavras, ou após o falhanço de um passo tecnicamente mais arrojado, comentávamos jocosamente a falta de perícia de quem errava. Sorríamo-nos e olhávamo-nos divertidos. Eu sentia-me deslumbrado com o prazer da atenção que me dispensavas. Tinha-te entre as minhas mãos. As trajectórias que tomavas, impelidas por mim ou de mote próprio, levavam-me a correr-te o corpo com as mãos em auxílio coreográfico. Agarrava-te para te lançar de novo em movimento livre e recuperar-te junto a mim, em abraço.
No final da noite, contrafeitos, tivemos que parar. As luzes haviam sido desligadas e a música há muito cessara. Apenas permanecia o tédio de quem fechava a casa e tinha de suportar os que retardavam o seu descanso. Dentro de nós ainda circulava um frenesim cansado em regime de auto-gestão corporal. Saímos para o amanhecer ameno que começava a apagar estrelas. Fomos percorrendo as ruelas da povoação misturando os passos arrastados com a conversa a tempos excitada, talvez desconexa. Nos ouvidos soava o chilrear madrugador das aves e amaldiçoámos a excitação avícola. Pedíamos silêncio.
As pernas transportaram-nos os corpos para os descampados nos arredores da aldeia. Sentados, calados, apoiando as costas um no outro, permanecemos de olhos fechados a ver o azul surgir para dominar o céu matinal. Os corpos resvalaram lado a lado e pediram para dormir.
Há momentos em que, na verdade, não pondero as minhas reais aptidões para uma tarefa e o ridículo que poderei vir a cair. Foi numa dessas ocasiões de inconsciência que procurei a tua mão e te puxei para mim. Vi surpresa no teu rosto e tu, em mim, terás visto algum espanto. Apercebi-me da indecisão que me corria no gesto decidido que praticara. Que pensava eu fazer? Tinha-te presa nos meus braços, com suavidade. A minha inconsciência rogava para conhecer o sabor dos teus lábios mas, na fracção de tempo que este repente utilizou, a consciência sobrepôs-se e falou-te por mim. Dançamos, disse. E dançámos. Talvez melhor descrito fosse, eu tentei fazer qualquer coisa que se parecesse com coordenação de passos e ritmos. Tentei seguir-te a perícia no rodopio. O meu corpo pedia-te contacto. Contacto e maior contacto e contacto mais ousado.
Corremos incessantemente a sala, alucinados pelo ritmo da música e do álcool. Quase não conversámos mais. Por vezes, entre duas músicas trocámos breves palavras, ou após o falhanço de um passo tecnicamente mais arrojado, comentávamos jocosamente a falta de perícia de quem errava. Sorríamo-nos e olhávamo-nos divertidos. Eu sentia-me deslumbrado com o prazer da atenção que me dispensavas. Tinha-te entre as minhas mãos. As trajectórias que tomavas, impelidas por mim ou de mote próprio, levavam-me a correr-te o corpo com as mãos em auxílio coreográfico. Agarrava-te para te lançar de novo em movimento livre e recuperar-te junto a mim, em abraço.
No final da noite, contrafeitos, tivemos que parar. As luzes haviam sido desligadas e a música há muito cessara. Apenas permanecia o tédio de quem fechava a casa e tinha de suportar os que retardavam o seu descanso. Dentro de nós ainda circulava um frenesim cansado em regime de auto-gestão corporal. Saímos para o amanhecer ameno que começava a apagar estrelas. Fomos percorrendo as ruelas da povoação misturando os passos arrastados com a conversa a tempos excitada, talvez desconexa. Nos ouvidos soava o chilrear madrugador das aves e amaldiçoámos a excitação avícola. Pedíamos silêncio.
As pernas transportaram-nos os corpos para os descampados nos arredores da aldeia. Sentados, calados, apoiando as costas um no outro, permanecemos de olhos fechados a ver o azul surgir para dominar o céu matinal. Os corpos resvalaram lado a lado e pediram para dormir.
1 comentário:
não gosto que as horas em que escreves os postes apareçam com AMes e PMes.
abraço primaveril e másculo!
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