Sou um tipo desprendido de tudo e que nunca se impoem. Não odiava nada à repulsa mas também não se punha em adorações ao limite da loucura. Cinzento e discreto. Às vezes os outros são-me indiferentes e em outras ocasiões respondem ignorando-me.
Ciclicamente apaixono-me. Sim, ciclicamente porque raramente há qualquer semelhança a uma reciprocidade e a ausência do outro extremo do amor fazem-no definhar. Mais tarde abandono o estado apaixonado para me dedicar somente à indiferença e pacatez.
Ciclicamente então, devoro avidamente qualquer partícula espacio-temporal da moça. Torno-me um discreto bajulador. Um quase-desinteressado-simpático apelidado de bom amigo. Devoro-lhe as palavras e bebo-lhe os gestos. Discordo pontualmente, com o humor que possa ter em mim, para provocar a discussão e ver o calor da discórdia preencher-lhe as faces. Isto se porventura ela entra na discussão. Considero este contacto, não sendo uma honra, o mais próximo que posso almejar da felicidade.
Pois... apenas o calor da discórdia nas faces...
Deito-me de costas na cama, olhos no tecto. Sorrio. Rememoro o que com ela vivi nesse dia. Se não houver nada desse dia, recapitulo os melhores momentos de outros dias.
Na escuridão da noite, enquanto vejo para lá do tecto, o sorriso desvanece-se, num esgar de dor. Num esgar de auto-imposta repressão, não deixo já que as lágrimas me limpem o coração. Parece que depois de um período de sofrimento enamorado me forcei a não exteriorizar de forma tão assumida os desamores.
Adormeço a dizer-me-lhe que amanhã é que me revelo. Nesse instante, ela far-me-á aperceber que no outro extremo há o que desejo.
Na noite seguinte adormeço a pensar o mesmo. E na noite seguinte adormecerei a pensar o mesmo. E na outra noite também.
Tu fazes-me assim.
Devia ser bruto contigo e não esta coisa. Devia atirar-me a ti e não ficar nesta inoperância. Devia, deiva, devia...
Mas não consigo.
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